Voar
- Cleiton Zirke
- 11 de out. de 2019
- 1 min de leitura

Talvez seja isso que os pássaros nos peçam: que não banalizemos o vôo. Demos a justa e devida importância ao passeio aéreo dos insetos, das borboletas, dos pássaros, das pipas, dos aviões, dos foguetes, dos pensamentos. Não tratemos com menosprezo esse momento no qual as asas se abrem. Há que se considerar a importância dessa fração de segundo que os pés perdem o chão - a terra, a segurança, o apoio, a estabilidade, as certezas... Deve-se dar o devido valor aos medos envolvidos em lançar-se ao ar - ao novo, ao vazio, ao desconhecido. Mas não tanta importância, a tal ponto que o medo seja paralisante. O movimento de transformação que leva o pouso a ser vôo deve ser respeitado solenemente: é transcendência. Busque-se ter leveza tal que permita o embalo do vento, do tempo, do carinho, do afeto. E se as asas cansarem, se algum lugar parecer aconchegante, se for capturado por alguma beleza, se quiser um novo ninho...que se saiba pousar. Que as asas recolhidas aqueçam o corpo, que a terra seja respeitosamente tocada pelos pés, até que seja hora de uma nova partida, nessa longa e impermanente jornada passarinha de viver.
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