Das propriedades das curvas
- Cleiton Zirke
- 1 de nov. de 2019
- 2 min de leitura

Era uma quinta-feira pela manhã. Dia ensolarado, voltava para Florianópolis ouvindo The Cranberries, Alanis & outras preciosidades que a geração nascida nos anos 80 conhece tão bem. Tinha me autorizado alguns dias de aconchego na casa de meus pais e próximo aos amigos de mais longa data. Precisava. Pois bem. Na estrada, pensamento solto, sentia-me melhor do que nas semanas anteriores (colo dá resultado!), fui capturado pelo movimento do meu corpo ao fazer as curvas. Percebi o deslocamento do corpo para um lado e outro, e depois o retorno ao centro. Fiquei, então, pensando sobre curvas. Sobre as configurações da estrada, que se deram por conta de elementos que não a estrada ela mesma, porém sobre ela exerceram efeitos: rios, montes, propriedades particulares, pedras, aclives, declives. As curvas, as vezes, para dar conta desses obstáculos, deixam o caminho um pouco mais longo. Nesses volteios, geralmente transitamos por lugares diferentes, pelos quais não passaríamos se a estrada fosse uma linha reta. Podemos ter novas perspectivas dos mesmos lugares. Claro, comecei a extrapolar das curvas da estrada de asfalto para as curvas da vida, os deslocamentos as vezes previsíveis e as vezes não, da nossa trajetória existencial, toda essa grande coleção de agoras entre o nascimento e a morte. Talvez as curvas possam ser encaradas com essa conotação de movimento, de flexibilidade. Para além das curvas como estudadas pelas ciências matemáticas e estatísticas, tão amplamente usadas (nem sempre bem) como distribuição e organização de eventos e padrão de normatização; para além da beleza das curvas artísticas e arquitetônicas, me interessam os desvios, em um sentido de curvas abstratas, que, ao longo do tempo, podemos fazer (por querer, ou por necessitar) na vida. Porque a vida tem um quê de imprevisibilidade, e não faria sentido ser sempre mesmo diante desse movimento constante. E talvez diante de algumas situações da vida, o melhor a fazer seja "dar uma de curva" e ousar um caminho novo e diferente, que abre novas possibilidades e perspectivas. Permitir uma curvatura no curso da vida pode ser a única possibilidade diante das impossibilidades: fazer e inventar outro caminho. Porque a vida não tem morro, rio e pedra, mas tem situações tão inesperadas e desafiadoras que, para continuar sendo nós mesmos, é necessário mudar. Daí a lição da curva: sair do caminho reto é um jeito de tornar a estrada possível. A curva é muito mais do que uma linha que não é reta. A curva diz de um jeito muito gente, muito pessoa, muito humano, de ser: descontínuo, alinear, imprevisível, passível de transformação, assim como a vida é. Nesse sentido, é uma criação possível para continuar a estrada, o que também pode ser nomeado, dentro do linguajar técnico gestáltico, de ajustamento criador. "Encurvados", algum encantamento é possível nesse transitar pelo existir. Para onde? Para onde as curvas do caminho mostrarem que se pode ir. . . . Se ao ler o texto você se deu conta de que quer ou precisa fazer algum movimento de curva, entre em contato! Podemos ir juntos para lugares além da linha reta. Cleiton Zirke - Psicólogo CRP 12/18226 (47) 99762-5894
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