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A flor branca

  • Foto do escritor: Cleiton Zirke
    Cleiton Zirke
  • 11 de out. de 2019
  • 2 min de leitura

I Do descompasso dos versos ditos na brecha aguda da incerteza nascida do silêncio dos teus vazios Planto uma flor branca. A água fria da insensibilidade rega as raízes finas. Tal qual a desarmonia das rimas faltantes, poema que não quisera ser perfeito soneto, no barulho e no silêncio alternados, ali descubro  tuas contradições.

II Como és humano! Eivado pelas vicissitudes das tuas inconstâncias, deixaste pedaços teus pelos lugares onde teus  passos te levaram. Estás aqui e ali - cada  pouco levado pelo vento das tuas escolhas. Nunca inteiro. Nunca incompleto. Cada um dos teus dias atravessado com a inteireza de quem podes ser.

III Tuas mãos cuidam da flor branca, queres que as raízes tragam os pedaços todos. Viajante do tempo para trás, recolhes teus fragmentos, miolos de pão na floresta das tuas desventuras, raízes que te buscam desde o ventre daquela que te gerou.


IV Quando teus olhos pela primeira vez viram aquele que seria teu mundo. Quando teus pulmões encheram-se dos ares primeiros. Quando tua boca sentiu os primeiros sabores. Vias as cores sem saber que eram, ouvias os sons sem claramente distingui-los e daquele todo, inominado, tiravas teu deslumbre e teu contentamento. O que sentiste quando viste teu primeiro azul? Como foi o primeiro toque das palmas das tuas mãos, que hoje acariciam meu rosto? Quem colheu tua primeira lágrima? Quem te ajuntou quando pela primeira vez caíste? Como seguraram tua mão quando tua primeira letra escreveste? Quais sonhos em ti se desenharam quando dormiste tua primeira noite? O que te fez derramar teu primeiro sorriso? Qual música tua voz primeiro cantou? O que imaginaste antes de qualquer outra imaginação? Teu primeiro pensamento, onde o guardaste?

V As raízes finas beberam das tuas águas. Nas pétalas das flores brancas estão tuas verdades indizíveis. Ali, nos esquecimentos de quem já foste, ali, nos hiatos onde tua vida sofreu a descontinuidade, ali, naquele desconhecimento de ti mesmo, ali, onde não estás nem queres te contemplar, talvez esteja tua mais sublime verdade.

VI Até ali a flor branca te alcançou Entrou no mais profundo de ti mesmo: cada flor te mostrava quem de fato eras. Te trouxe de volta nos braços para que sejas perfeitamente aquele que vai fazer novas flores brotarem no meu peito, em todos os dias que me presenteares com tua presença.

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