top of page

À infância do primeiro amor

  • Foto do escritor: Cleiton Zirke
    Cleiton Zirke
  • 11 de out. de 2019
  • 2 min de leitura

Ah, menino... Que vi teus pés pisando nas pedras das ruas, que vi os pingos d'água escorrendo dos teus cabelos molhados. Que te vi correndo nas ruelas das casas coloridas emendadas, que te vi sentado nas cozinhas atrás das portas. E quando foi verão teu suor caiu nestas pequenas areias de praia calma e curta. Eu senti no meu rosto o vento que levava o teu riso infante. Te encontrei um pouco aqui quando já não estavas mais e te amei de novo no menino que  um dia foste. Ah, menino... Que quis te colocar no colo e acalentar teus sonhos e acariciar teu rosto e espantar teus medos e te segurar forte e te dar cuidados.

Pelas tuas décadas vieste naquele dia e eu pelas décadas fui de volta e te vi, mas não fui visto por ti. Assisti os teus dias felizes ali e pensei na tua mão branca. Na tua mãe branca. Nas tuas broncas. Nos teus brônquios. Nas nossas brigas. Nas muitas intrigas. Nos muitos suspiros. Nos respiros. Até nos espirros. Nos cirros. Na vida acirrada.

Das duas crianças que fomos as mãos se soltaram e eu chorei no Ribeirão da Ilha. Te vi pelas costas indo embora e tu levaste por uns tempos a luz dos meus dias e eu anoiteci. Não sei se me agrado do menino que já não corre mais pelas ruas e praças debaixo das árvores e das lâmpadas dos postes e na frente daquelas paredes de cores fortes que escondem alguns segredos, e nem sei se me agrado daquela água que não banha mais tua pele. Tenho dúvidas sobre o encaminhamento dos teus e dos meus passos depois que partimos dali.


Contudo, menino, não posso fugir disto: eu te vi no mar, eu te vi na areia, eu te vi no vento, eu te vi na rua, eu te vi na praça, eu te vi chegando e eu te vi partindo, até porque partimos as vezes sem saber que é a última vez e nem há tempo para as despedidas pelo simples e certo fato de não se saber que não existirá outra vez mesmo que se queira; então te deixei voltar mesmo sem essa certeza do regresso ao encontro.

E como os botões estão destinados a florir se nada lhes tirar a sina, se por alguma mão ou até pelos acidentes ventosos não forem arrancados, as flores desabrocharam e o amor continuou como um acontecimento, como um rio que por entre as pedras se vai e contorna nãos e sins e muda de forma para permanecer e assim consegue transmutar-se para existir apesar de todos os apesares.

Eu te amo com o amor puro da primavera nas suas flores que espalham cheiros bons e tem cores e nos seus botões de flores que são nada mais que promessas e são os passados das flores e a sua criancice, e também nas borboletas esvoaçantes e também nas brisas que fazem folhas voar e também nos seus muitos mosquitos.

Commentaires


Post: Blog2_Post

(47)99762-5894

  • Facebook
  • Instagram

©2019 by Aqui, agora. Proudly created with Wix.com

bottom of page