Nos idos dias
- Cleiton Zirke
- 11 de out. de 2019
- 1 min de leitura

Naqueles idos dias
Naqueles idos dias em que o perdão se dava gratuito, seguros estávamos nos braços da confiança irrestrita. Eram daqueles dias com cheiro de ternura, macios e aconchegantes. Adentrávamos o porto do presente como quem ali quer ficar, indefinidamente. Naqueles idos dias, primaveris e floridos, as borboletas voavam ao redor de nossas cabeças e dentro dos nossos estômagos. O riso desprendia-se fácil e farto, quando os lábios não estavam tocando-se. Beijávamos nossos dentes e nossas almas entrelaçadas como um nó, nó cego do amor, que como as flores crescia, colorido e perfumado. Naqueles idos dias, ainda o coração se podia abrir sem medo. Os sonhos não haviam ainda sido despedaçados. Nos dávamos as mãos e cantávamos doces e serenas antiguidades, da simplicidade que a vida ainda tinha, dos dias sem tempo de relógio. Naqueles idos dias, teus olhos verdes ainda brilhavam, com toda a tua verdade ali contida. Iluminavam meu rosto, que te admirava, pasmo. Inebriado no recíproco sentimento, certeza concreta do pertencimento e da posse, do consentimento em nos darmos um ao outro. No universo particular e paralelo, construíamos nossos planos, alheios às interdições circunvizinhas. E com tua cabeça aconchegada no meu ombro, adormecíamos. Naqueles idos dias, vivêramos o sonho materializado. E mesmo que aqueles idos dias nunca mais voltem - e eles não voltarão- permanecem, entesourados, certeza do sentido absoluto do amor, que de amar justifica-se, em si mesmo, completo e absoluto, todo.
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